Cerca de quinhentas famílias de agricultores que desenvolvem um revolucionário método de produção agroecológica no sertão nordestino serão expulsas de suas terras para a implantação de um sistema de agronegócio...
que beneficiará cinco grandes empresas e muito provavelmente contaminará toda a região conhecida como Chapada do Apodi/RN/CE com agrotóxicos.
A Chapada do Apodi é uma formação montanhosa brasileira localizada na divisa entre os estados do Rio Grande do Norte e do Ceará, funciona como divisor de águas entre as bacias hidrográficas dos rios Apodi e Jaguaribe e a sua produção agrícola concentra-se nas culturas de mel, banana, milho , melão, mamão, goiaba, ata (fruta-do-conde), melancia, pimentão, graviola, algodão herbáceo, feijão vigna, sorgo e capim de corte.
O projeto iniciado em 8 de março de 2005, ainda na gestão do Presidente Lula, foi batizado como assentamento milagres, e é um projeto modelo utópico de reforma agrária, o segundo maior produtor de mel do Brasil, exportando mais de 40 toneladas de Mel para a Europa e para os Estados Unidos. Segundo João Pedro Stédile, a Presidenta Dilma Rousseff tem muito boa vontade para a reforma agrária, mas está extremamente mal assessorada neste particular.
O Presidente da CUT (Central única dos Trabalhadores ) no Rio Grande do Norte, Zé Rodrigues, ressalta que as famílias trabalham em sistema de cooperativismo, em lotes de oito hectares, e serão desapropriadas de suas terras sem qualquer garantia de indenização ou de realocação.
O líder popular esclarece que suas afirmações são embasadas em estudos da UFC, UFRN, UFERSA e UERN, e que o projeto de agronegócio em tela utilizará de pulverização aérea, método que comprometerá a produção de mel e trará danos a toda a sociedade. Segundo estudos da UFC 45% dos venenos utilizados no agronegócio vão para o subsolo contaminando os lençóis freáticos, 19% dos venenos ficam nas, e o restante evapora contaminando a população com as chuvas. Já é comprovado que os venenos utilizados são repassados às crianças através do aleitamento materno.
Zé Rodrigues ainda explica que toda a situação já foi exposta a Gilberto Carvalho e para a Presidenta Dilma, e que o povo aguarda uma nova reunião para tratar da questão. Um grande ato público está marcado para o dia 10 de dezembro, e visa sensibilizar a sociedade já que os grande conglomerados de comunicação fingem que estes problemas não existem.
Na capital do Rio Grande do Norte, o coletivo da UFRN “Até que tudo cesse, nós não cessaremos” organiza uma caravana para somar forças ao ato público do dia 10. O líder estudantil Adler Barros é assertivo: "Os movimentos sociais da cidade estão solidários aos movimentos sociais do campo e não vão abandonar os companheiros nesta luta. A mídia não divulga, não há nenhuma repercussão". Ele ressalta que segundo o projeto os recursos hidricos vão ser divididos em três partes, uma para a agricultura familiar, outra para abastecer os municípios vizinhos, e uma terceira parte para o agronegócio, aumentando a escassez de água em região de clima semi-árido.
O coletivo ambientalista Nivaldo Calixto, do IFRN, está organizando debates sobre o crime lesa humanidade a ser perpetrado. Para Matheus Graça, membro do Coletivo, o projeto é inviável tecnicamente, pois o modelo de irrigação utiliza bombeamento em vez da gravidade, o que encarece o projeto, ele afirma que é um projeto mal estudado e com planejamento não compartilhado com a população. “É uma violação, pois os agricultores que ocupam as terras o fazem com natureza num projeto de reforma agrária, produzem em sistema de agricultura familiar e orgânica. Estão destruindo um modelo de agricultura para todo o Brasil, estão destruindo um símbolo da agricultura social e da reforma agrária".
Segundo o professor universitário e militante social Daniel Valença, O DNOCS é o órgão promotor das obras, e está dirigindo o projeto de maneira altamente equivocada, já que as famílias não foram sequer convocadas para audiência pública. Ele ressalta que é um projeto da época da ditadura militar e que o Deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) parece ser um dos grandes defensores do projeto, já que segundo o deputado apenas meia dúzia de pessoas se oporiam ao projeto.
Neste dia 1 de dezembro, diversas placas de publicidade do projetos foram postas abaixo e queimadas pelos agricultores, indignados com a situação de ter tudo o que construíram em sua vida perdido. Uma grande tensão social se instala na região, e a população clama para que aqueles que assessoram de modo incoerente a nossa Presidenta se sensibilizem, e que a situação real chegue aos ouvidos da mandatária.
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