MINHA CARA ESTÁ QUERENDO – SER CORTADA POR NAVALHA.
POESIA/MOTE: MINHA CARA ESTÁ QUERENDO – SER CORTADA POR NAVALHA.
POETA: EDNALDO LUÍZ DOS SANTOS.
Escalei uma muralha
E fiquei quase morrendo
O meu pé ficou doendo
Feito bicada de gralha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
Fui juntar uma maravalha
Pra fazer água fervendo
E o calor me corroendo
Nessa seca que me valha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
A falta d’água atrapalha
Pois o gado vai morrendo
E o caboclo se valendo
Sem ver água em sua calha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
Tem a fome que se espalha
E a pobreza vai sofrendo
E a virtude se perdendo
Feito leite quando coalha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
Vejo o mundo em mortalha
Quando um livro estou lendo
O homem que só compreendo
É vestígio de porcalha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
A mulher que me agasalha
É uma puta que só vendo
Sua vida está fedendo
Feito lixo de metralha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
Minha deusa quando malha
A brancura vai perdendo
O valor que se está tendo
É bagaço só de palha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
A criança que bem trabalha
Perde a vida se vendendo
Com estupro só crescendo
Por causa da moda falha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
Não deixo de ser canalha
Vendo o povo se fodendo
Todo mundo se metendo
Num consumo que não talha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
A política que empalha
Um lugar desenvolvendo
A violência vai crescendo
E todo amor se embaralha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
O leitor não pega palha
Minhas obras, fica lendo
Muito vai me conhecendo
Meu veneno pouco falha
Minha cara está querendo
Ser cortada por navalha.
Feito dia: 26/ 12/ 2012.
URUBU, O BICHO DA SECA.
É UM BICHO MEI ISQUISITO ESSE TAL DE ARUBU, COMO CHAMA-SE AQUI NOS SERTÕES. O ARUBU SE APRESENTA COM A COR PRETA QUE NEM TIÇÃO DE FOGUEIRA, COM UM BICO PONTIAGUDO E OS ZÓI BEM ATIVO EM CONSONÂNCIA COM O OLFATO AGUÇADO. DE LONGE O BICHO PRETO CONSEGUE FAREJAR O CHEIRO DE CARNIÇA APODRECIDA. ELE NA REALIDADE É O AGOURO DA MORTE DEVIDO O FATO DELE FICAR SÓ ISPERANO O SUCUMBO DO SER VIVO DA CAATINGA.
AGORA EM PRENO TEMPO DA SECA, OS ARUBUS ESTÃO NOS SEUS MAGOTES, FAZENDO VÔOS E MAIS VÔOS RASANTES SOBRE AS CARNIÇAS DE GADO QUE SE MORRE AOS MONTES. É FÁCIL NESSE TEMPO VOCÊ ANDANTE DA CAATINGA SABER SE NUMA DETERMINADA ÁREA DA ZONA RURAL MORREU GADO. BEM DE LONGE VOCÊ AVISTA COM TODA SATISFAÇÃO UMA REVOADA DE ARUBUS, ANDANDO EM BANDOS E ISPETECADOS NAS ÁRVORES COMO UNS ENFEITES DE ÁRVORE DE NATAL.
MAS É IMPORTANTE FRISAR QUE O QUE PARECE AGOURO DA MORTE PRA NÓIS, É UMA ALEGRIA PROFUNDA PRA OS ARUBUS, JÁ QUE É NESSA ÉPOCA QUE ELES SE ALIMENTAM BEM, QUE ELES GARANTE SUA EXISTÊNCIA, É A LUTA PRO SUA SOBREVIVÊNCIA.
QUANDO ELES CHEGA PERTO DE UMA CARNIÇA, ELES JÁ VÊEM TUDO SEDENTOS COM O CHEIRO E SENTEM UM PRAZER IMENSO QUANDO DÃO BICADAS FORTES NO COURO DO DEFUNTO MORTO. SUAS BICADAS SÃO TÃO AGRESSIVAS QUE RAPIDAMENTE UM ARUBU PREFURA O CORPO DA CARNIÇA E PUXA AS CARNES MORTAS COM FORÇA PARA O SEU DEGUSTE.
Ô ARUBUS SABIDOS!
A ANÁLISE DA VOVÓ
VOVÓ, vá caçar uma lavagem de roupa! Procure pegar um monte de cueca pra você suspirar com seus odores. Deixe a vida do poeta em paz! O poeta precisa te analisar ao invés de você. Vá namorar o Fidel pra ver se você encontra a liberdade socialista! Deixe o poeta suspirar a exatidão dos fatos e não fique incorporando caramiolas na cabeça se não você vai enlouquecer. Vá fazer um café com a meia velha do seu insumo e me deixe fomentar a razão dantesca do amor contrabandeando. Vá fumar o que não é droga para fazer de sua vida uma droga de existência. Vá catar cabelo em ovo para ver se o poleiro da galinha é rígido e forte pra te agüentar. Mas não se intrometa nos assuntos do poeta se não você será motivo de zombaria. Quem dentre vós que cai nas garras do poeta, cai na boca do povo e vira motivo de chacota.
Não pense que o eu lírico do poeta é fácil de se entender não. O eu lírico do poeta é um labirinto enigmático que nem mesmo o Dom Casmurro foi capaz de deixar pistas para o triunfo final. Nem se quer a Marília de Dirceu que não deu ouvidos ao seu autor deixou seus rastros da persuasão adquirida. Como é que uma vovó dessas pode dizer que conhece o eu lírico do poeta!
Vou te contar um detalhe: o eu lírico do poeta me disse em conversa informal que a sua grande virtude é tocar nas ínguas das pessoas sem intenção do deboche e sem classificar o nome de ninguém. Ele disse que quem sente a coceira do que é exposto é sinal que tem uma pulga por trás da orelha.
E isso para ele é experiência própria. Ele já vivera o deguste da acusação sem uma comprovação e não se limitou ao caso do acaso. Apenas vivenciou o fato sem as vísceras que é de fato.
Por isso vovó não levante hipóteses contra o poeta. Não aponte uma resposta sem o devido dedo apontado, ou você vai se desapontar com o poeta.
O mal da velhice é o sexo sem gosto.
MANDELIA VADIA
POESIA: MANDELIA VADIA
POETA: EDNALDO LUÍZ DOS SANTOS.
Você se esconde
E eu não te acho
Só vivo num facho
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
Que fico batendo
No fone dizendo
Ai, ligue pra mim!
Se não me acabo
Pegando no cabo
Deste alfinin.
Você só me olha
Querendo atenção
Mas deixa na mão
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
Nesse vai e vem
Querendo também
O tom deleitado
Ajuda de feme
Pregada num leme
No leito salgado.
Você me deseja
No tosco momento
Matando o fomento
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
No jogo sereno
Jogando veneno
Me deixando fraco
Eu fico tremendo
Quando estou querendo
Entrar num buraco.
Você bem duvida
Do que sou capaz
Me botando gás
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
No calejo a parte
Estou com enfarte
Nesse veranico
Estou numa osmose
Com tanta lactose
Enchendo penico.
Eu posso viver
Do jeito que vivo
Sem ter o seu crivo
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
Atrito carnal
Um bem digital
Fazendo lambança
Fechado na casa
Querendo ter asa
Na forte lembrança.
Feito dia: 26/ 12/ 2012.
POETA: EDNALDO LUÍZ DOS SANTOS.
Você se esconde
E eu não te acho
Só vivo num facho
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
Que fico batendo
No fone dizendo
Ai, ligue pra mim!
Se não me acabo
Pegando no cabo
Deste alfinin.
Você só me olha
Querendo atenção
Mas deixa na mão
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
Nesse vai e vem
Querendo também
O tom deleitado
Ajuda de feme
Pregada num leme
No leito salgado.
Você me deseja
No tosco momento
Matando o fomento
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
No jogo sereno
Jogando veneno
Me deixando fraco
Eu fico tremendo
Quando estou querendo
Entrar num buraco.
Você bem duvida
Do que sou capaz
Me botando gás
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
No calejo a parte
Estou com enfarte
Nesse veranico
Estou numa osmose
Com tanta lactose
Enchendo penico.
Eu posso viver
Do jeito que vivo
Sem ter o seu crivo
Mandelia Vadia
É de noite, de dia,
Atrito carnal
Um bem digital
Fazendo lambança
Fechado na casa
Querendo ter asa
Na forte lembrança.
Feito dia: 26/ 12/ 2012.
A ARTE DE DAR NO NATAL
A GERAÇÃO COM VIDA DATIVA NO NATAL
EU vi um padre dizendo que o velho Noel foi na realidade o São Nícolas que gostava de dá euforicamente, pois ele se sentia o máximo em poder saciar os desejos mais afincos da sociedade do seu tempo. Ele deu tanto que passou a imagem para as gerações futuras como um sujeito que deve dar, mesmo não querendo, para satisfazer o bem comum. As pessoas são exigentes até os últimos suspiros.
Foi ai que se criou no auge da tradição natalina a arte do se dá e receber, visto que quem dá a única maneira de ser recompensado é aceitar o receber com todo o afoitamento genérico. Quem recebe vai dar por que o homem tem a capacidade de criar meios como o Amigo Secreto só pra ter a simples missão do provar da doação.
A idéia de dar perpassou as gerações futuras com tal afinco que chegou nos nossos tempos com novas roupagens onde as pessoas inventaram um ato cívico e profetizaram a arte dativa como meio de libertação da ordem humana preestabelecida por uma idade de trevas. O homem quis mudar com a idéia de dar.
O próprio significado de dar exprime uma idéia de libertar-se de algo, de sobrepor-se a algo ou de unir-se a algo.
Daí São Nicolas foi um velho muito bondoso e doou sua riqueza para os mais necessitados da região. E isso fora um presente mesmo na época do festejo a data que o Cristo nasceu. Desde essa época, de geração para geração, é costume dar, no sentido de presente, um presente a quem alguém mais deseja saciar-lhe. Dar presente é um sentido generoso da palavra dada.
OS CASÓRIOS DE HOJE.
FOI DESDE OS TEMPOS DO REGIME MILITAR que a sociedade brasileira ao comando da juventude inovadora decidiu criar uma oportunidade para fugir daquilo que os militares pregavam com bastante entusiasmo: o casamento. Isso seria dentro do contexto civil e religioso, mas precisamente o católico. A oportunidade foi senão o contrário de tudo. A juventude teve de criar uma maneira de consumir os seres humanos sem dever satisfação nem a eles e nem a sociedade circundante. A criação foi “o Ficar” que desde o seu uso feito por jovens intelectuais, drogados pelas circunstâncias da vida, vem sendo uma oportunidade afinca para libertar-se das algemas que se faz em um esposório.
De modo que os casórios de hoje adotaram e muito essa idéia do “ficar” ou “enfincar” sem compromisso. Se um casamento não der certo ambas as partes podem pegar o beco. Mas acontece é que muitos homens e raras mulheres ainda ficam com um sentimento atrelado ao coração depois que se separam e muitos desses amantes separados tendem a cometerem desatinos de violência contra a vítima separada.
Os casórios de hoje favorecem mais a vida da mulher do que a do homem visto que quando há uma separação quem fica com a maior parte do bolo capitalista é a mulher que mesmo na empreitada de conseguir um lugar na sociedade acabam, com uma atitude dessas, dependentes do capital machista. Isso mesmo, a Lei às vezes pensa que ajuda mais faz é prolongar mais a condição submissa da mulher em relação ao homem.
Mas em relação aos casórios de hoje, o ficar tende a bagunçar os relacionamentos conjugais de tal forma que a separação pode ocorrer a pequeno, médio e longo prazo.
Dessa forma pelo que eu observo, não adianta fazer mais as cerimônias processuais de casar com véu e grinalda, e fazer aquele banquete para alimentar os convivas, se nem a virgindade, tão ourificada pelos homens, é conservada na maioria dos casos de casórios tanto no mundo como nos sertões seridoenses.
Pelo que eu observo, a idéia do casório é mais dada às seridoenses do que aos homens de outrora. As mulheres sonham mais com esse tipo de cerimônia devido o fato dela embelezar e embonecar esses eventos de caráter expositivo. Não se pode negar que um evento desses é bonito, mas é um teste de gasto para saber se o mancebo detém fortunas escondidas ou se ele realmente está querendo se esposar com a aparente donzela aureolada.
São casos raros que você ainda encontra no Seridó. É difícil você encontrar um casal que tenha noivado muito tempo e depois que juntou muito dinheiro faça um casamento em uma igreja qualquer. Eu mesmo conheço gente que se casou escondido só para não alimentar a gentália dos convivas. Há gente que noivou mais de dez anos e ainda não sabe se ama o ser ou ama o ter. Há gente no Seridó que preferiu se amancebar com outrem, pois a vontade de desaflorar era tanta que não se podia esperar tanto tempo de namoro e nem tampouco tanto tempo de noivado. Há gente da poupança grande que preferiu se casar logo pelo interesse capitalista e pelo medo da solidez mesquinha, do que ficar com a poupança grande sem ter ninguém para investir num paraíso fiscal. Há gente mulher que sabe que o marido lhe trai e não o deixa pelo simples fato de não ter ninguém que lhe ampare financeiramente falando. E há gente que se casou na igreja local, prometendo a Deus juras de amor eterno e quando a fêmea engordou o macho deu-lhe um pé na bunda e procurou outra fêmea de corpo mais sarado. E tantos e tantos outros casos que eu observo e deduzo que os casamentos de hoje não passam de um passatempo do jogo de interesse humano.
FONTE BLOG POETA DO SERIDÓ.
FONTE BLOG POETA DO SERIDÓ.
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